Sublinha a edição de hoje do DN-Madeira que "José Sócrates tinha conhecimento das intenções de Jaime Gama". Por seu turno, o gabinete do Dr. Jaime Gama adianta que o "senhor presidente da AR não tem nada a acrescentar, nem a retirar ao que foi dito". Se isto é assim (ainda admito que não seja, embora com o devido respeito pela seriedade da peça jornalística), digo eu, a nobre função do exercício da política atingiu o grau zero.
Era, exactamente, o que eu desconfiava. Alguma coisa se escondia para além das palavras ditas. Portanto, entendo que pouco mais há a fazer, ou melhor, apenas há que, pacientemente, esperar que esta geração de políticos passe e que a próxima devolva os princípios e os valores que devem nortear esta importantíssima função de serviço à comunidade.
A questão central não está no reconhecimento de um político pela "obra" realizada pelo outro. A questão está em assumir, hoje, declarações ofensivas que testemunham um claro repúdio pela "obra" e sobretudo pelos posicionamentos políticos de alguém e, passado algum tempo, perante o mesmo quadro, tecer rasgados elogios a esse mesmo alguém. Isto tem uma palavra: hipocrisia, aqui sim, suprema!. Mais. A questão central é ter a noção que o PS-Madeira, estrutura federativa do PS-Nacional, luta, há muitos anos, contra um sistema complexo; é ter noção que, na Assembleia Legislativa da Madeira, não tem sido fácil gerir dossiês em total solidariedade com o Governo da República embora com custos políticos locais e, na cara dos camaradas da Madeira, desprestigia-os e dá-lhes um tiro de misericórdia. Se, localmente, a situação já não era fácil de gerir, doravante, pior será no contexto do debate político. Esta manhã, na Assembleia Legislativa da Madeira, foi a amostra do pano.
Esperava muito mais de um presidente da Assembleia da República. Esperava um discurso de Estado no âmbito da importância do sector autárquico e não um discurso oco e laudatório bem à maneira dos tempos anteriores a Abril.
Independentemente destes aspectos, uma outra questão deve, ainda, ser tida em conta. É conhecida a relação nem sempre fácil da actual direcção do PS-Madeira com a respectiva direcção nacional. É pública e notória a existência de posicionamentos discordantes relativamente a algumas orientações, neste caso, do Governo da República. A questão é saber se, a provar-se a peça jornalística como fidedigna, o Dr. Jaime Gama prestou-se ou não ao "servicinho" de aproveitar o momento para afirmar, claramente, junto dos dirigentes locais, dizendo não dizendo, não contem connosco! Se essa foi a intenção, obviamente, que toda a política estratégica do PS-Madeira deverá ser revista. Daí a necessidade de perceber as teias deste processo. No essencial, qual a verdade de tudo isto?
Com actos eleitorais de importantíssima relevância à porta, e com a imperiosa necessidade do PS-M recuperar a confiança do eleitorado depois do acto eleitoral atípico de Maio de 2007, a situação agora criada deve ser repensada e ser tida em devida consideração. Do meu ponto de vista justifica-se uma de duas coisas: ou o Secretário-Geral do PS quebra o silêncio e, partidariamente, demarca-se das posições do Dr. Jaime Gama gerando aqui uma saída airosa para a situação ou, restará, com carácter de urgência, uma clarificação regional através da realização de um congresso extraordinário. Julgo que não basta uma presença e um discurso firme nos órgãos nacionais tal como cheguei a admitir. Simplesmente porque a responsabilidade do PS é a de ser governo na Madeira e esse objectivo só pode ser construído com credibilidade, respeitabilidade pública e com a solidariedade nacional. São as únicas respostas possíveis, para que a cara, de um lado e do outro, fique lavada e os eleitores saibam, afinal, com que tipo de linhas se coze a política regional e, concretamente, o PS-Madeira.
Custa-me assumir esta posição de rotura. Fujo aos designados "tiros no pé" ou a falar para dentro. A minha postura tem sido sempre focalizada na política regional e de oposição ao PSD. Tenho provas disso. Mas da mesma forma que, em determinadas circunstâncias, relativamente à política regional, o Secretário-Geral Engº José Sócrates disse, um dia de forma subtil, BASTA, é também o momento para o PS da Madeira dizer-lhe, frontalmente, BASTA!
Nota final. Fiquei absolutamente rendido à postura de solidariedade política do Presidente do PS-Açores para com os dirigentes da Madeira. Ele sabe do que fala.
O desabafo está feito. Era impossível manter o silêncio. Não volto a este assunto.
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