Qualquer sistema ou organização tem de possuir um sistema de controlo. É esse sistema que permite corrigir e criar novas dinâmicas. No sistema educativo o mesmo se deve passar. Estranho, no entanto, que se faça, rotineiramente, uma aferição sobre o mesmo quadro de referências curriculares e programáticas. Aí, pergunto, para quê a aferição quando, provavelmente, os resultados não serão diferentes da anterior? Se, do ponto de vista organizacional, curricular e programático nada de relevante se alterou, enfim, qual é a eficácia desta aferição? Ainda por cima não contando para nada? Não consigo entendê-la.
O sistema, obviamente, que tem de possuir um sistema de controlo mas, para isso, necessário se torna, primeiro, implementar medidas a montante da escola, na sociedade, enfim, nas famílias; depois, na escola, destruindo o conceito da velha escola e abrindo-a a novos conceitos. Ora, quando o pensamento estruturante do sistema é sempre o mesmo poderá a resposta ser diferente? Evidentemente que não será. Portanto, extraio desta história da aferição, a leitura que ela constituirá o primeiro passo para a implementação do exame de carácter obrigatório nos ciclos mais jovens. E não é por aí que os meninos saberão mais, nem a repetência do ano lhes servirá para alguma coisa se a Escola, repito, continuar a ser aquilo que sempre foi. A Escola é que tem de ser diferente para que o resultado seja diferente. A sociedade é que tem de ser diferente para que o sistema educativo possa ser diferente. Quando as duas se compaginarem teremos o sucesso escolar e a diminuição das taxas de abandono.
Tenhamos presente o que nos dizem tantos filósofos, sociólogos e pedagogos sobre esta matéria. Tenhamos presente as experiências bem sucedidas em tantos espaços geográficos. Tenhamos presente o que diz Edgar Morin que sublinha a necessidade de uma reforma radical do sistema educativo. Ora, nestas idades, no ensino básico, o que se pretende é fazer o lastro, o alicerce onde seja possível colocar os pilares sobre os quais se edificarão, de forma segura, o conhecimento e o futuro de cada um. E para aqui converge a necessidade de separar o essencial do acessório, intensificar a cultura, meus senhores, os actos culturais no sentido lato do termo, o descondicionamento e, como diz Rubem Alves, seguir uma lógica de "amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. Nós precisamos de gente preparada para voar para a vida, qualificada através de outros processos adaptáveis e não de resposta única. Sendo assim, nesta escola que teimam em manter, por mais aferições que façam continuará a dar a mesma resposta de sempre. A Escola que desejo é aquela, regresso a Rubem Alves, que assenta no pressuposto que "não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses". É por isso que a Escola tem de mudar de paradigma mas isso só é possível se quisermos "desaprender um certo jeito de ser escola".
O pior disto tudo é que temos Autonomia e podíamos caminhar como exemplo nacional e internacional. Mas o governo prefere repetir, repetir até à exaustão e nunca, mas nunca ter um rasgo de inovação. Vão sempre atrás dos outros. Lamento.
3 comentários:
BEM VISTO!
Sabe bem o Sr. Professor que o Tribunal Administrativo negou ao Governo Regional intervenção nesta matéria. E ainda por cima a protesto dos seu amigos dos sindicatos. Resultado: ficou tudo como os socialistas fizeram (no rectângulo). E o Ministro da República costuma ser claro: reserva da AR...
Boa tarde. Obrigado pelo seu comentário.
Permita-me que lhe diga mas este assunto tem outros contornos. E neste aspecto, pelo entendimento que tenho em matéria de política educativa, suportada em humildes estudos que há muito faço, que, aliás, aflorei no meu post, sou contrário à existência de "exames" no ensino básico.Foi isto que a Secretaria Regional quis implementar.
O EB tem outros objectivos.
As aferições deverão ter lugar, obviamente que sim, desde que se alterem os pressupostos que enquadram a organização do sistema, os currículos e os programas. Em função das alterações, obviamente que, periodicamente, devemos aferir para perceber a eficácia das medidas. Mas isto joga com um novo paradigma de sistema de educativo e, portanto, de escola. O problema é muito mais profundo do que alguns possam pensar.
Por outro lado, se bem estou recordado, os Açores avançaram com qualquer coisa nesse campo. O facto é este: eles souberam, no campo da Autonomia, avançar antes da legislação nacional. A Madeira fez o percurso contrário e viu as suas intenções defraudadas. É preciso ter isto em atenção.
Mas o que se passa nos Açores ou no Continente pouco me importa. Sou adepto que podemos ter um País e três sistemas educativos distintos que apenas respeitem a matriz nacional.
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