Percebo o alcance da declaração mas, confesso, que me chocou. Há depoimentos que são sempre de evitar, sobretudo para quem tem responsabilidades políticas na Segurança Social. Não gostei de ler o que disse a Drª Bernardete Vieira, responsável pelo Centro de Segurança Social da Madeira, que "só passa fome quem quer", em função das ajudas não só por parte do "Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados", mas também através das várias iniciativas de instituições diversas que, por esta altura (e não só) pedem a solidariedade de todos os madeirenses que podem ajudar. Eu diria que foi uma declaração menos feliz até porque a Drª Bernardete Vieira tem-nos habituado, habilmente, a uma certa frontalidade no que diz respeito à não ocultação da pobreza.
A declaração choca-me porque os milhares que dependem da ajuda continuam a depender, cada vez mais e de forma, infelizmente, crescente, da solidariedade dos outros, num círculo vicioso que, pessoalmente, não encontro justificação no plano da actividade política. A sociedade, por um lado, o governo, por outro, devem assumir a responsabilidade política de organizá-la no sentido da tendencial não dependência. Já não bastam todos os apoios prestados (todos da responsabilidade da República: para além do Rendimento Social de Inserção, a baixa no preço de 4.000 medicamentos, o Complemento Solidário para Idosos, o apoio pré-natal, o Salário Mínimo que cresceu 20%, o Abono de Família, que cresceu 25% conjugado com o 13º mês desta prestação social, o apoio às famílias monoparentais, o apoio à licença de parentalidade, entre outros) acrescido, ainda, do facto de todos os funcionários da Segurança Social serem pagos pelo Orçamento de Estado, a Madeira, ainda precisa de uma substancial ajuda complementar para matar a fome a tanta pobreza persistente. Afinal, o que anda a fazer o Governo?
Estou, absolutamente convencido que com outras apostas de natureza económica e educativa e com outras prioritárias nas políticas de família, hoje, com toda a certeza, a situação na Madeira seria outra. A erradicação da pobreza é possível (ela não é nem pode ser uma fatalidade) mas isso depende de políticas sérias e de um irrepreensível respeito pelas prioridades. Por isso, só passa fome quem quer, no actual contexto, implica passar pela "vergonha" de ter de pedir com natural perda da autonomia individual. É isso que lamento, porque todos têm direito à felicidade. E um pobre nunca é feliz. Dizer-se ao contrário é mera retórica e poesia!
Fotos: Google Imagens.
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6 comentários:
A Segurança Social É UMA RESPONSABILIDADE DO ESTADO. Está na Constituição.
Não é uma responsabilidade do Partido Socialista...
Ou é, enquanto lá estiver. Mas só isso.
E essa responsabilidade é suportada pelo Orçamento da Segurança Social, que se origina nos descontos de TODOS os portugueses (madeirenses também).
Não adianta querer passar a ideia demagógica que outros pagam os nossos benefícios na matéria...
É também SUA responsabilidade, Sr. Deputado, ser pedagógico e não demagógico e não tentar burlar quem o ouve e lê. Nem que seja por omissão. Pois aí perderá todo o seu posicionamento que (dá a ideia) pretende ser de rigor e isenção.
Eu não lhe vou agradecer o comentário, simplesmente porque gosto do debate sem palavras azedas e muito pouco agradáveis. O debate deve ser feito sempre com a preocupação de não ofender. E se lhe digo isto é porque tenho consciência que nunca fui demagógico nas minhas posições, tampouco burlão nas ideias. Rejeito este tipo de posicionamento que, aliás, é muito vulgar na Madeira. Mas comigo, obviamente que não passa. Devolvo. Da mesma maneira que pqrto do princípio que apenas tenha a minha verdade (e que vale o que vale) aceito as verdades dos outros mas... sem ofensa.
Pensei não comentar mas sempre lhe quero dizer duas coisas: primeiro, ao contrário do que sublinhou, nós não temos BENEFÍCIOS da Segurança Social, temos DIREITOS; segundo, falei de pobreza e escrevi que, para além dos direitos da Segurança Social, que raio de política esta que ainda "precisa de uma substancial ajuda complementar para matar a fome a tanta pobreza persistente. Afinal, o que anda a fazer o Governo?". Foi neste quadro que entendi fazer o desabafo. Nada mais, porque entendo que são possíveis outras políticas de natureza educativa e económica que nos faça sair desta situação que não abona nada uma REGIÃO AUTÓNOMA com órgãos de governo próprio. Tão simples quanto isto.
Caro André Escórcio
Gabo-lhe a paciência, a generosidade e o civismo!
São os ossos de um ofício que destoa da maioritária produção local. Produção, essa, que é exportada para longíquas terras,designadamente para aquelas onde os Xis se "transformam" em Jotas.
Uma vez cá,também, é tudo uma questão,rigorosa e isenta, de "socializante adaptação"...
Só visto !!!
Caríssimo,
Muito obrigado.
"Apoios" é a sua palavra.
Benefícios a minha.
De direito... ambos (os apoios ou benefícios). Porque não?
"Todos da responsabilidade da República"
Pois assim diz a Constituição. Mas pagos por todos nós e não pelo partido socialista.
Só isto.
O Governo Regional faz o que pode porque a matéria (se há mais a fazer) é da responsabilidade da tal República (socialista) que tem o orçamento e as receitas (também recolhidas na Madeira) para o efeito.
E é essa República que pode fazer mais (envididando o pais). Por cá, com menos da LFR e com endividamento proibido, pouco se pode fazer. É o garrote socialista que produz estes problemas por cá.
Meu Caro "Anónimo",
Afinal, parece não ser necessário mudar a Constituição para que a Madeira resolva os seus problemas. É um passo importante. Todavia, como sou um autonomista e regionalista de grande convicção, até admito que, aqui e ali, pontualmente, na altura própria, a Constituição deva ser revista. Sem complexos.
Sinceramente, eu não entendo essa do "garrote". Como madeirense, exercendo, temporariamente, um serviço público à comunidade (é assim que sempre entendi a minha participação na política), a leitura que faço é que, por um lado, como há dias referi, não se pode assentar o exercício da política no pressuposto que "com dinheiro faço obras e com obras ganho eleições"; por outro, que não é possível manter em uma terra pobre e dependente, altos níveis de endividamento sob pena de entrarmos em uma espiral de gravíssimas consequências. Por outro lado, é preciso que se tenha em conta que existe a insularidade mas que existe também a interioridade.
E neste pressuposto, é minha convicção (respeito outras) que teria sido possível nestes trinta e três anos de poder do PSD, com tanto dinheiro europeu, nacional e regional disponível, construir uma Região mais sustentável em todos os sectores e áreas da governação. Os doze princípios do desenvolvimento não foram respeitados e não se teve em atenção que esta terra é finita no seu espaço geográfico.
Aliás, como cidadão, entendo que um acto inteligente é o de não permitir que um partido esteja no poder mais do que oito anos. Esta minha posição é válida para qualquer região ou para a República. Aliás, só o poder alternativo é capaz de trazer inovação. Normalmente quem permanence no poder longos anos, acaba por criar vícios, gerar clientelas e modos de actuação que acabam por ser perniciosas ao desenvolvimento. A Região da Madeira é um desses casos. Não é a LFR o "garrote" mas os seis mil milhões de dívida que estão a tornar-se incomportáveis.
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