Confesso que estou zangado com o meu Partido. É evidente que aplaudo muitas decisões assumidas nos últimos três anos. É indiscutível a coragem e a capacidade demonstrada em vários sectores e áreas de actividade governativa. Mas se isso é verdade também não deixo de dizer, com profunda mágoa, que muitas outras deixaram-me estupefacto pelo sensível desvio dos princípios e valores que enformam a matriz orientadora do PS. Não sou pessoa e político fundamentalista, incapaz de olhar para o Mundo como se ele começasse e terminasse aqui. Não aceito e não abdico é do respeito pelo essencial da carta de princípios que me fez militante, ao ponto de já não saber onde termina o PS e começam os outros partidos à sua direita. Há decisões assumidas que, estou certo, outros não se atreviam a tomar.
Um dos princípios do desenvolvimento é o da "transformação graduada" e um outro é o da "prioridade estrutural". Podia, ainda, equacionar os princípios da "continuidade funcional", da "interacção" e da "integração". Fico pelos dois primeiros. Ora, no contexto social e económico do País, as mudanças, obviamente sempre necessárias, não podem deixar de respeitar uma cadência no tempo que imponha deveres mas respeite direitos; que avance mas não suplante as prioridades. E tudo isto subordinado a um outro princípio do desenvolvimento, o da "participação". Porque, ou as pessoas aderem (participam) ou os processos morrem ou, no mínimo, entram em conflito. É o que se está a verificar.
Ademais, o Povo e a Democracia precisam de saber e de identificar, a todo o momento e no essencial, o que caracteriza um partido em relação aos outros. Ora bem, é pela falta de identificação, pelas medidas tomadas e pela onda neo-liberal que percorre a Europa, sujeita aos ditâmes da imperialista América, que está a deixar um rasto de miséria, que surge, como contraponto, o "Fórum das Esquerdas". Na palavra de Manuel Alegre há uma necessidade de assumir a "coragem de resistir, mas a coragem de virar a página e construir uma nova esperança e uma nova alternativa".
Espero que o PS, que não aprendeu com o último resultado eleitoral para a Presidência da República, reveja os caminhos do diálogo, a importância dos sindicatos, aliás, de todos os parceiros sociais, os alertas que estão a surgir mormente à sua esquerda e corrija procedimentos gravosos para a generalidade da população. Há mais vida para além do directório de Bruxelas e aqui devem mandar os portugueses. Muitas greves vêm a caminho e não basta dizer que são coisas dos comunistas. A Democracia faz-se com todos mas sem perda da identidade do partido que, nas últimas legislativas nacionais garantiu uma significativa maioria absoluta.
E por aqui me fico, simplesmente porque não quero, por agora, deitar mais combustível numa situação que já arde de forma preocupante. Foi apenas um desabafo!
3 comentários:
Caro amigo
Disse, e muito bem:
«E tudo isto subordinado a um outro princípio do desenvolvimento, o da "participação". Porque, ou as pessoas aderem (participam) ou os processos morrem ou, no mínimo, entram em conflito. É o que se está a verificar.»
E é aqui, na participação, que todo o edifício tem os seus verdadeiros alicerces. Mas este Governo, na sua arrogância de vencedor incontestado (até parece que estou a falar da Madeira...), optou pelo confronto. E todas as reformas foram, e continuam a ser, precedidas de um ataque às pessoas envolvidas, com a finalidade evidente de as diabolizar e tornar culpadas dos males (passados, presentes e futuros) de que o sistema enferma. O discurso de tomada de posse do cidadão Pinto de Sousa foi lapidar: centrou-se num ataque impiedoso contra os farmacêuticos e os juízes.
Claro que assim nada avança no mundo real, embora pareça avançar no mundo fictício das estatísticas... As farmácias continuam a dar pingues lucros e a Justiça continua emperrada.
E, nos restantes sectores, passa-se o mesmo.
E tudo é sacrificado em prol da imagem.
Espero bem que Manuel Alegre crie um novo partido. Pelo menos, terá um voto, o meu, nas próximas eleições.
O que eu queria ver mesmo era um relatório do TC sobre o uso dos dinheiros públicos do grupo do PND-M
E o que eu quero mesmo ver é o relatório da PJ sobre o uso dos muitos dinheiros públicos na Fundação Social-"democrata".
Deve ser uma maravilha!!!!
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