Fico feliz por ver um dos nossos ao mais alto nível. Merece, pela sua determinada luta, pelo empenho e pelo exemplo que oferece a todos, independentemente de profissões, que só com muita dedicação, paixão, exclusividade e doação é que se consegue melhorar e atingir a excelência. Seja em que área for.
Gosto de vê-lo em campo, já gostei mais da sua humildade enquanto figura pública, aprecio a sua ligação à família mas já não gosto de um certo tipo de vedetismo que parece invadi-lo nos últimos tempos que chega ao ponto de tratar treinadores e jornalistas por tu. Fica-lhe mal, muito mal. Portanto, por aí estamos conversados, parabéns Ronaldo.
Outra coisa é como já ouvi algures, que este é um produto da Madeira Nova e do investimento no desporto. Aí, alto e parem o baile, porque Ronaldo não é consequência de qualquer trabalho na escola por onde andou. Descobriram-no no simpático e histórico Andorinha, rumou aos onze anos para Lisboa e por aí ficou. Oxalá, sublinho, fosse um produto "made in Madeira" porque isso significaria, certamente, a consequência de uma acertada política desportiva e do aparecimento de muitos outros com o seu virtuosismo ou perto dele. Mas nem sombra. Nem sombra no futebol como em todo o desporto regional, aliás, como em todas as áreas das expressões.
Curiosamente, há dias, a jornalista Lília Bernardes do DN-Lisboa questionou-me sobre as consequências que teria para a Madeira este último prémio conquistado pelo Ronaldo. Respondi-lhe: (...) É uma ilusão pensar que a Madeira ganha com isso. Os títulos são sempre efémeros e, quanto muito, ajudarão a valorizar, ainda mais, a sua cotação internacional mas nunca aliviarão a situação económica da Região atolada em seis mil milhões de dívida. A Madeira só ganhará quando tiver um projecto político sustentável que resolva os seus gravíssimos problemas estruturais. Neste contexto, Ronaldo não constitui sequer uma peça da solução". Parece-me óbvio. Aliás, do ponto de vista turístico, cada vez mais, as pessoas viajam em busca de qualquer coisa que está muito para além do futebol.
E disse aquilo trazendo em memória o saudoso Carlos Pinhão, jornalista que foi do jornal A Bola, com o seu refinado humor, um dia escreveu, em um dos seus textos de Sábado, duas linhas muito curiosas que permitem que assentemos os pés no solo e olhemos para a realidade: "somos os melhores do Mundo em sub-21, os melhores da Europa sub-18, sub-16, etc., somos os melhores do mundo em sub-desenvolvimento".
Pode-se não levar à letra mas há muita verdade em Carlos Pinhão face à histeria a propósito de um troféu. É que há vida para além da bola. E se bem que não me apoquente as fortunas que ele arrecada ao minuto, não deixo também de fazer uma leitura sistémica sobre os negócios que estão em jogo no mundo do futebol que roçam o pornográfico. Coitados dos cientistas que penam anos a fio em estudo laboratorial para descobrir qualquer coisa de relevante importância para a humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário