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domingo, 21 de dezembro de 2008

A MAIS DRAMÁTICA DAS SONDAGENS

Ferreira Fernandes assina, no DN-Lisboa, um texto sobre um inquérito feito a professores o qual dá que pensar: "O inquérito a professores foi feito a 1100 pessoas, um "universo", como se diz na linguagem das sondagens, que torna as conclusões credíveis. O inquérito foi organizado por uma entidade ligada à Federação Nacional dos Sindicatos da Educação que não deve regozijar-se com as conclusões, logo dando ainda maior credibilidade. E o que diz o inquérito? Que 75% mudavam de profissão se pudessem. Que 81%, se pudessem, pediam a aposentação. Que 26% voltariam a escolher a profissão de professores".
Estas percentagens não me são estranhas, ou melhor, confirmam o sentimento generalizado que existe relativamente à profissão docente. É evidente que, tão elevadas percentagens estão certamente ligadas ao conturbado período que o Sistema Educativo atravessa. Quando uma média de 110.000 educadores e professores participaram, em Lisboa, nas duas últimas concentrações, tal significa o indisfaçável desconforto que a classe evidencia. Mas, independentemente das questões profissionais, consubstanciada nas tensas relações com o Ministério da Educação, no caso do Continente, e com a Secretaria Regional da Educação, no caso da Madeira, há outras situações muito graves que se estão a tornar explosivas. Refiro-me à crescente indisciplina, à má educação, à insolência, à ausência de sentido de responsabilidade, ao abandono das famílias no processo educativo, às carências afectivas que transportam de casa para dentro da escola, à falta de dinheiro para cumprir o projecto educativo e a missão da escola, a falta de autonomia dos estabelecimentos de ensino, a excessiva burocratização do sistema, enfim, há um mundo de problemas que só quem por lá anda tem consciência da saturação a que os profissionais da Educação estão expostos. Tudo isto à qual se junta uma remuneração que, para um Licenciado, pode começar, no início da carreira, com € 1.113,50 ilíquidos. A pergunta que se coloca é esta: serão os educadores e professores responsáveis por esta situação?

4 comentários:

Anónimo disse...

Qual seria a resposta de outras classes profissionais à mesma questão?
Se tivessem alternativa...
Claro que todos pensam numa alternativa ... melhor.
Pelo que a resposta é forçosamente positiva. Mudavam os professores e todos os outros.
A notícia é nitidamente de "encomenda"...
Para passar uma mensagem que é generalizavem a qualquer classe profissional.

André Escórcio disse...

Penso que não é bem assim. Não sei qual a profissão do "Anónimo" mas eu sei o que se passa na Escola. Admito que exista um desconforto muito grande na sociedade portuguesa e, por conseguinte, na generalidade das profissões. Mas, na de docente, a situação é muito grave. Não é por acaso que estão a aposentar-se ao ritmo de mais de 400 por mês e não é por acaso que são muito altos e assustadores os números dos internamentos nas unidades de psiquiatria.
Nesta área sei do que falo em função do tempo de serviço que tenho, dos contactos que estabeleço aos níveis regional e nacional e do que vou lendo.
Daí que entenda que outra seria a história se o exercício da docência fosse dignificado e se a organização escolar fosse outra, obviamente mais adaptada ao nosso tempo.

Anónimo disse...

Não nego a insatisfação que se instalou nas Escolas desde que a a actual equipa socialista se instalou na 5 de Outubro.
Simplesmente acho que a situação é generalizavel a outras profissões. Se há 150 mil professores, 400 aposentações e 150 nos psiquatras, noutra profissão, por exemplo em 1.500 caixas de bancos, haverá 4 aposentações e 1 ou 2 nos psiquiatras...
Daí que entendo ser tudo é relativo, vindo ao de cima, com outro impacto mediático o que diz respeito ao grupo maior...
Mas procurar diferenças para obter diferenciações socialmente injustas (o que os sindicatos docentes têm procurado obter), acaba por ser muito egoista da sua parte.

André Escórcio disse...

Não estou de acordo. Eu, talvez por uma questão de idade à qual se associa uma longa experiência no domínio educativo, eu, que não sou um corporativista que apenas olha para a defesa da sua classe, eu, que consigo despir-me das minhas vestes pardinárias para analisar o sistema no seu todo e de forma distante, eu, que também já desempenhei, complementarmente, outras funções profissionais, sei que há uma substancial diferença entre a docência e outras importantes profissões. Aqui, dizem também os investigadores, há um desgaste muito rápido.
Vou-lhe dar apenas um pequeno exemplo, talvez o menos grave, contado, ainda ontem, na primeira pessoa: um aluno olha para a professora, fisicamente forte e diz-lhe sem mais nem menos e em jeito de provocação: "olhe, daqui a dias não cabe na porta!". Imagine a carga desta frase, no que ela representa de ofensa pessoal, de constrangimento psicológico e no âmbito da disciplina da turma. Já imaginou, por exemplo, o que faria se um aluno o mandasse para um qualquer sítio do mais ordinário que possa imaginar?
Isto passa-se diariamente com centenas de alunos desestabilizadores, oriundos de famílias desestruturadas (e não só) face às quais não se verificaram sérias políticas de família. O problema é muito complexo, creia.