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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

BEM PREGA FREI TOMÁS...

Não dou muita importância aos discursos proferidos no decorrer de jantares de clubes. Normalmente servem para galvanizar as hostes pelo que, o que lá é dito deve merecer o devido desconto. Defendo, da mesma forma que entendo que o rol de obras não deve ser discutido no adro das igrejas à saída das missas, que não é nos jantares dos clubes que devem ser discutidas as opções de política desportiva. Daí, o desconto ao que é dito. No entanto, quando o presidente do governo regional fala e vai muito para além das palavras de circunstância, as declarações já devem merecer alguma reflexão. Estou a referir-me ao último jantar de confraternização pela passagem do 98º aniversário da fundação do C. D. Nacional. Ora, disse o presidente sobre a questão da Madeira poder ou não manter o nível que atingiu o futebol profissional:
"(...) Entendo que sim. É uma questão de modelo desportivo que é um modelo político. (...) Querem destruir este modelo para criar um vazio e depois levarem a juventude para angústias que conduzam aos objectivos marxistas. E depois de instituído o poder absoluto pelo Estado então utilizar o desporto como utilizava a União Soviética, para ser uma máquina de propaganda do regime. O desporto não é para propaganda política, é para a realização da pessoa humana".
E disse muito mais, contra outras leituras de processo, por parte da oposição e dos jornalistas ("analfabetos") que evito aqui reproduzir. O que me parece é que o presidente não sabe o que diz e pelas declarações proferidas anda para aí um quarto de século atrasado. E pior do que isso, não tem ninguém à sua volta para explicar-lhe o óbvio e o autêntico crime educativo que está a cometer com a política do seu governo. Apenas vou dar alguns exemplos:
1º Nos últimos oito anos, no âmbito do desporto, foram atribuídos ao sistema desportivo (federado) 242,5 milhões de Euros; ao sistema educativo cerca de 4 milhões de Euros. Daqui resulta que a aposta na formação educativa (escola) foi negligenciada em função dos interesses do associativismo desportivo (clubes) vocacionado para a qualidade e, portanto, para a representação nacional e internacional.
2º Resultou desta política que o desporto escolar movimenta cerca de 4.000 praticantes e o federado cerca de 16.000. Onde deveria existir muitos há poucos e onde deveria ter poucos existem (teoricamente) muitos. Com agravantes: o desequilíbrio entre géneros (nos 16.000, 72% são masculinos e apenas 28% são femininos); há mais seniores que o conjunto de iniciados, juvenis e juniores.
No plano competitivo a Madeira tenha mais de duas centenas de praticantes continentais e estrangeiros nas equipas que representam a Madeira nos planos nacional e internacional.
3º Apenas 23% da população com idades compreendidas entre os 15 e os 74 anos têm uma prática física com alguma regularidade, mas apenas 8% três vezes por semana.
4º A valores de 2007, o investimento por atleta federado foi de € 2.028,24 enquanto que o investimento por cama na promoção turística da Região foi de € 249,00.
E fico por aqui porque são tantos os dados que podia enunciar.
Mas pergunto, afinal, onde está a "realização humana" e mais, quem é que através deste modelo utiliza "o desporto para propaganda política"? Bem prega Frei Tomás!

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