Não, Senhora Ministra. Essa NÃO! Essa de dispensar os professores da avaliação de desempenho desde que estejam até três anos da data de aposentação, não me passava pela cabeça. Ou a Senhora Ministra acredita no modelo que deseja implementar e esse modelo dirige-se a todos os que exercem funções educativas e de ensino, ou então o modelo não serve, está errado e, portanto, deve ser substituído através de uma negociação com os parceiros sociais.
Esta decisão da Senhora Ministra da Educação peca, no mínimo, a dois níveis: desde logo deixa transparecer que há um objectivo subjacente que é o da desmobilização dos docentes através de uma fractura entre os docentes mais antigos e os mais jovens, com evidentes reflexos ao nível das relações internas nos estabelecimentos de ensino e no plano da mobilização na defesa dos interesses da classe; depois, no quadro em que o actual modelo se inscreve, esta decisão peca no pressuposto que há bons e menos bons professores próximos da aposentação como os há em início da carreira. E se a avaliação visa a melhoria da qualidade educativa, logo, não é aceitável a não correcção de procedimentos mesmo que o docente esteja a pouco tempo de sair do sistema. Isto, para mim, é óbvio.
Ora bem, o que está em causa e sempre esteve, é a implementação de um sistema o mais justo possível, formativo, que desenvolva a qualidade da oferta pedagógica, um modelo que constitua uma ajuda estratégica a quem governa na compreensão do sistema, uma ajuda táctica ao nível da orientação da escola e uma substancial ajuda no comportamento docente ao nível da sala de aula. Mas não é só isto que está em causa. Há muito mais. A avaliação é apenas uma variável que tem de ser considerada num lato conjunto de áreas de intervenção que ninguém tem coragem para enfrentar: os currículos, os programas, o número de alunos por escola e por turma, o rácio professor/aluno, a arquitectura dos espaços escolares, a autonomia dos estabelecimentos de ensino, a educação a montante da escola, a criação e estabilidade no emprego, a erradicação da pobreza, enfim, a escola e o que lá se faz, encontrando-se no fim da linha, não pode ser analisada de forma isolada. É um erro. Este é um processo articulado cujo sucesso depende de políticas integradas.
Perante isto, Senhora Ministra, volto a não estar com as suas teses, da mesma forma que, por aqui, na Região, não se vê, por parte deste governo regional, um fuminho branco que indicie a revisão do Estatuto da Carreira Docente e a criação, entre outros, de um modelo de avaliação que não se constitua sob a forma de ameaça ou gerador de medo. Aguardemos pelo mês de Janeiro. Para já, pelo andar da carruagem, infelizmente, parece que teremos ano novo... vida velha!
Nota:
"Os Directores das Escolas com mais de 1.200 alunos vão passar a receber mais 750 euros. Para o secretário de Estado, Valter Lemos, este aumento do suplemento remuneratório traduz «o reforço de competências e responsabilização» dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino. Entre 40 a 46% é quanto vão subir os suplementos remuneratórios dos directores das escolas. Não excluo este súbito aumento e no momento em que ele aparece, como uma preocupação do Ministério fechar o cerco à generalidade dos professores. Com os mais antigos sem avaliação e as direcções melhor remuneradas, está aberto o caminho para colocar uma significativa parte dos docentes numa situação muito desconfortável.
2 comentários:
"Dividir para reinar"!
Como é possível que um Partido, que se intitula Socialista, lance mão de um estratagema tão mesquinho!!!
Com actos destes,o que é que o distingue daquele que domina esta região?!
Caríssimo,
Espero que alguns movimentos que estão a acontecer dentro do PS e que envolvem a parte mais esclarecida da sociedade portuguesa, possam vir a ajudar a colocar certos dossiês com a visão estratégica e o posicionamento político correctos.
Um abraço.
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